Boa ação para salvar vidas
A estruturação das políticas que envolvem a doação de sangue no Brasil ou por algumas transformações, mas ainda está longe da ideal
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Siga noNão é rara a mobilização dos hemocentros para estimular a doação de sangue, especialmente em vésperas de feriados prolongados ou em meses considerados de baixa procura (férias e inverno). Amanhã (14), como agenda do Junho Vermelho, é o Dia Mundial do Doador de Sangue e, mais uma vez, especialistas e autoridades estimulam o ato como forma de aumentar os índices de doação.
Em 2023, 1,6% da população brasileira doou sangue, o que resultou em 3,2 milhões de bolsas. Vale lembrar que uma bolsa pode salvar até quatro vidas. Ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende que cada país tenha uma população de doadores entre 1% e 3% do total – portanto, o Brasil tem cumprido as metas –, aumentar essa estatística faria um bem enorme para a saúde nacional. É um desafio para o Ministério da Saúde, bem como para as secretarias estaduais e municipais. Especialmente se pensarmos que somos pouco mais de 210 milhões de brasileiros e menos de 2% são doadores (no caso, pessoas acima de 16 anos) – e não estamos falando aqui de doação de órgãos, cujos índices são infinitamente mais modestos.
A estruturação das políticas que envolvem a doação de sangue no Brasil ou por algumas transformações, mas ainda está longe da ideal. A começar pela forma de lidar com o material, já que até a década de 1980 o sangue utilizado como terapia transfusional era “vendido” pelo doador. Felizmente, essa prática foi banida e deu lugar a um esforço de reforçar atributos como solidariedade e voluntariado, dando início a uma corrente positiva de doadores, além dos sistemas de coleta do sangue e a criação dos hemocentros coordenadores – que hoje são 32 no país, além de 69 hemocentros regionais.
O Decreto nº 3.990, que regulamentou a legislação federal no que se refere a atividades de hemoterapia e instaurou a Política Nacional de Sangue, Componentes e Derivados, data de 2001, quando se reafirmou a proibição de comercialização do sangue, e precisa ser atualizado, com artigos que incluam um detalhamento maior das Boas Práticas no Ciclo do Sangue.
É claro que o monitoramento dos hemocentros, por parte da Vigilância Sanitária, bem como a fiscalização de todo o processo desde a chegada do material, o armazenamento dos insumos e reagentes, enfim, de toda a infraestrutura dos serviços de hemoterapia, evoluíram. Episódios trágicos como os que ocorreram com os irmãos Henfil e Betinho, que contraíram o vírus HIV em transfusões de sangue, são tristes lembranças do nosso ado.
Mas ainda falta muito para nos tornarmos um exemplo. Infelizmente, existe uma névoa em torno do tema, a começar pela falta de motivação por parte dos doadores. Não há como negar: o questionário disponibilizado nos serviços de hemoterapia é bem detalhado e há uma série de quesitos que podem ou não aprovar um doador. Além disso, são poucos os hemocentros, assim como é escasso o investimento em equipamentos mais avançados, em equipes mais dinâmicas e em campanhas que façam cair por terra mitos e boatos acerca da coleta e utilização do sangue. Falta atitude, falta solidariedade.