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Siga noEm 15 de junho, celebra-se o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. Trata-se de uma data muito importante e para a qual devemos dar a máxima atenção.
Primeiro, porque o aumento da longevidade da população nos traz desafios novos: o cuidado com familiares de idade avançada, o aumento dos casos de demência, tudo isso somado a famílias cada vez menores.
Em segundo lugar, porque a noção de violência normalmente nos remete à dimensão física, deixando ar desapercebidos outros tipos de violações que, ainda que mais discretas, não são menos graves. A violência patrimonial, o abandono e, em especial, a violência psicológica.
A idade avançada traz às pessoas uma vulnerabilidade específica, que emerge como medo do desamparo, da solidão e uma carência muito característica dessa fase da vida. Por isso, pessoas idosas são especialmente suscetíveis a chantagens emocionais e manipulações psicológicas. Com razão, elas têm um receio concreto de não terem apoio quando mais precisarem.
É neste cenário que gostaria de propor outra reflexão, também trazida pelo mês de junho, que é de celebração do orgulho LGBTQIAPN+. Estamos testemunhando o envelhecimento de uma geração que assumiu abertamente sua diversidade sexual e de gênero. E o que acontece com essas pessoas que viveram suas verdades quando envelhecem?
Ao sermos colocados diante da missão de cuidar de uma pessoa querida com idade avançada, estamos dispostos a acolhê-la exatamente como ela é ou desejamos que ela seja outra pessoa? Será que a pressionamos para atender a uma expectativa social do que é ser um padrão de pessoa idosa? Isso porque, ainda que de forma pouco consciente, podemos aproveitar dessa vulnerabilidade para impor modos de viver, de amar e de existir.
A que adianta darmos cuidado para o prolongamento de uma vida biológica se estivermos impedindo a pessoa de continuar escrevendo sua biografia?
Por exemplo, forçar que uma pessoa trans, depois da velhice (se tiver a sorte de chegar lá), volte a ser tratada com seu nome e gênero determinados no nascimento é muito violento. E não há que se falar de liberdade de escolha se essa pessoa sentir que, se mantiver sua identidade, lhe será negado o cuidado que a idade exige.
E não pense que a violência é sempre escancarada. Ela pode chegar de mansinho e se instalar. Por exemplo, quando se assume as providências de comprar roupa para uma pessoa idosa e essas roupas claramente começam a conduzi-la a uma performance padrão de gênero e sexualidade.
Obrigar que uma pessoa volte para o armário quando ela está vulnerável e dependente de cuidados é uma violência psicológica grave e precisamos estar atentos para não romantizar os cuidados prestados por familiares. Nem todo cuidado é respeitoso.
Ainda que a pessoa tenha sua capacidade ameaçada pela senilidade ou pela demência, ela nunca perde sua identidade e deve continuar sendo respeitada por quem é e pela história que escreveu para si.
Por isso, nesse junho proponho, então, essa reflexão conjunta: estamos preparados para cuidar e acolher com respeito o envelhecimento das pessoas LGBTQIAPN+? Talvez nunca estejamos totalmente prontos, mas precisamos estar genuinamente abertos para tentar.
Vida longa aos que vivem e cuidam de verdade!