
Lesionei na maratona, é o fim?
Ignorar sinais pode transformar uma lesão leve e reversível em algo mais sério, que exige afastamento e, em casos extremos, até mesmo cirurgia
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A cena é conhecida de muitos corredores. Meses de preparação, treinos longos nos fins de semana, planilhas cumpridas à risca, alimentação e sono controlados. Tudo em nome da grande prova, o grande dia: a maratona. Mas, de repente, uma fisgada no posterior da coxa, uma dor insistente no pé, ou um joelho que simplesmente se recusa a continuar. E vem a pergunta angustiante: “Lesionei na maratona, é o fim?”
A boa notícia é que, na imensa maioria dos casos, a resposta é um sonoro “não”. Lesões fazem parte do universo esportivo, especialmente em provas de longa distância. Com o aumento da popularidade das maratonas, é natural que vejamos também um crescimento nas ocorrências de lesões relacionadas à corrida. O que realmente importa é como você reage a isso — e, principalmente, como você se recupera.
O impacto físico da maratona
Correr 42,195 quilômetros é um feito fisiológico impressionante. A cada o, músculos, tendões, articulações e estruturas ósseas são exigidos ao limite. Estima-se que um corredor de peso médio dê cerca de 55 mil os durante uma maratona. Cada um desses os representa uma carga repetitiva que, dependendo da biomecânica individual, pode levar ao surgimento de microlesões — ou até mesmo de lesões agudas, como fraturas por estresse ou rupturas musculares.
Essas condições variam em gravidade, mas compartilham um denominador comum: são potencializadas por excesso de carga, falta de recuperação adequada ou problemas biomecânicos mal corrigidos.
A dor como sinal de alerta
Muitos corredores caem na armadilha de minimizar a dor durante o treino ou a prova. Frases como “é só uma dorzinha”, “vai ar depois do gelo” ou “se eu parar agora, vou me arrepender” são perigosamente comuns. O problema é que a dor, em especial quando localizada e persistente, é um sinal claro de que algo não vai bem.
Ignorar esses sinais pode transformar uma lesão leve e reversível em algo mais sério, que exige afastamento prolongado e, em casos extremos, até mesmo cirurgia.
Diagnóstico precoce e abordagem correta
O primeiro o após qualquer lesão é buscar avaliação com um profissional capacitado — idealmente, um médico do esporte ou ortopedista com experiência em medicina esportiva. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações e para traçar o plano de tratamento mais eficaz.
Exames como ultrassonografia, radiografia ou ressonância magnética podem ser necessários, mas muitas vezes o exame físico e a história clínica são suficientes para o início do tratamento. Mais importante que o exame de imagem, porém, é a escuta atenta ao corpo e a orientação correta.
É hora de parar?
Essa é uma das perguntas mais difíceis para qualquer atleta responder. Parar o ciclo de treinos pode ser doloroso emocionalmente, mas muitas vezes é necessário. E isso não significa o fim da jornada esportiva — muito pelo contrário.
O tempo de afastamento depende do tipo e da gravidade da lesão. Em casos leves, como uma tendinopatia inicial ou uma lesão muscular grau I, é possível retornar aos treinos em poucas semanas. Já em quadros mais severos, como uma fratura por estresse de metatarso ou uma ruptura muscular grau III, pode ser necessário um período mais longo de reabilitação.
O que diferencia os atletas que voltam bem daqueles que enfrentam recorrências é justamente o cuidado no retorno. Respeitar o tempo biológico de cicatrização, realizar fisioterapia adequada e readaptar a carga de treino são atitudes fundamentais para evitar recaídas.
O papel da fisioterapia
A fisioterapia não é apenas uma ferramenta para tratar lesões — é também um instrumento essencial para prevenir o retorno delas. O fisioterapeuta esportivo atua na recuperação da função muscular, na correção de padrões de movimento, no fortalecimento de cadeias musculares negligenciadas e na melhoria do controle neuromotor.
Técnicas como terapia manual, exercícios excêntricos, treino proprioceptivo e liberação miofascial são frequentemente empregadas, sempre com base em evidências científicas. Em alguns casos, o uso de recursos complementares como eletroterapia, crioterapia ou bandagens funcionais pode ser indicado, desde que com objetivos bem definidos.
O impacto emocional da lesão
Não podemos ignorar o peso psicológico de se lesionar em uma maratona. Para muitos, a corrida representa mais do que um exercício físico — é um projeto pessoal, um desafio, uma forma de lidar com o estresse do dia a dia, ou mesmo um símbolo de superação.
Por isso, lidar com a frustração da lesão pode ser difícil. É comum sentir tristeza, irritação, medo de não conseguir voltar ao mesmo nível e até mesmo ansiedade. Nestes momentos, o apoio de profissionais da saúde mental pode ser tão importante quanto o dos fisioterapeutas e médicos.
Alguns corredores aproveitam esse período para investir em outras atividades que mantêm o condicionamento cardiovascular, como ciclismo indoor, natação, elíptico ou treinamento funcional. Manter-se ativo, mesmo com adaptações, ajuda a preservar a autoestima e a forma física.
Conclusão: não, não é o fim
Lesionar-se durante uma maratona, embora frustrante, está longe de ser o fim da linha. Com diagnóstico correto, tratamento adequado e uma abordagem consciente, a maioria dos corredores retorna mais forte, mais preparado e mais atento aos sinais do corpo.
Mais do que cruzar a linha de chegada, correr é um projeto de longo prazo. É sobre constância, resiliência, aprendizado e, acima de tudo, respeito ao corpo. Afinal, a estrada continua — e ela está sempre à espera de um novo desafio, um novo começo.
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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.